Sexta-feira e Sábado Santo
Estava assistindo uma pregação sobre a Sexta-feira Santa, onde a igreja celebra a morte de Jesus na Cruz. Na liturgia das quinze horas no evangelho é lido a Paixão e morte de Jesus. É refletida toda a história do sofrimento e morte daquele que veio ser o salvador da humanidade. Uma reflexão bonita, dolorosa e de exortação que me chamou atenção inspirando esta mensagem que também serve para refletida no Sábado Santo.
Jesus não está morto, aleluia, ele vive entre nós, mas, isto não deve ser motivo para que ao transportarmos no tempo e viver a sua morte não tenhamos os sentimentos daquele momento que foi o mais doloroso de Jesus e o mais cruel da humanidade. Mas, para refletir esta dor, este fato histórico, gostaria de fazer uma reflexão de como é o sentimento de alguém que perde um ente amado.
Como reagimos sentimentalmente quando perdemos um ente querido? Quando perdemos um pai, uma mãe, um irmão ou filhos? Ou mesmo quando perdemos um amigo o qual gostamos muito? Certamente, nossos sentimentos são de tristeza, choro. Muitas vezes, diante de um ente amado no caixão perdemos o apetite; nosso semblante se fecha e ficamos ali com aquela dor indescritível diante aquela pessoa no caixão. Nenhuma palavra, naquele momento atenua aquela dor que transpassa nosso coração. Ainda que muitas palavras de confortos, de consolos nos são dadas, naquela hora nada pode amenizar a dor daquele instante vivido, porque ficamos atônitos diante a perda e nosso sentimento é só de dor e tristeza.
O tempo passa, a vida vai-se seguindo e também a nossa dor vai se curando aos poucos. No entanto, a saudade continua e sempre ao lembrarmos deste ente que se foi, principalmente, em datas comemorativas entristecemos, porém, aprendemos a conviver com a ausência daquele que se foi na certeza que ele vive.
Pois bem, voltando a morte de Jesus e a Sexta Santa; qual é nosso sentimento diante a morte de Jesus? Será que ao reviver toda esta dor vivida por ele temos o mesmo sentimento de quando perdemos um ente amado? Será que conseguimos introduzir em nós esta perda, ou melhor, conseguimos sentir em nós este sentimento de profunda tristeza pela morte de alguém que não é nossos pais, não é nosso irmão ou nosso filho? Mas, que é mais importante que todos eles juntos? Pois, é o sofrimento e a morte do Verbo que se encarnou entre nós. Ou simplesmente, vivemos esta Sexta Santa como qualquer outro dia, pois não foi ninguém da nossa família que morreu. Para que chorar ou respeitar ou se introduzir no sentimento de uma morte já que Jesus vive?
Para sermos verdadeiros cristãos precisamos ser envolvidos no Mistério da Paixão de Cristo. Precisamos mergulhar dos sentimentos de Cristo. A Semana Santa, não é uma semana de fazer melhoria há um acontecimento ocorrido a 2 mil anos atrás, mas para envolver-se neste acontecimento, voltarmos para Deus. Este é o verdadeiro sentido da Semana Santa. A Páscoa só pode ser vivida após viver a paixão de Jesus. A Sexta-feira Santa não é um dia de festa, de alegria, de cantos, de comemoração, mas é um dia de profundo silêncio, profunda dor e interiorização, pois, neste dia, não estamos celebrando a Páscoa, a vitória da vida sobre a morte, mas, vivendo um dia de dor, de sofrimento, pois, morreu o salvador do mundo. Neste dia, o salvador do mundo está passando pelo terrível sofrimento da morte. O terrível sofrimento das injurias, porém, todo sofrimento foi para eu e você tenha vida e vida na plenitude. Por, isto, mas um motivo de profunda interiorização. A Sexta-feira Santa é o dia de abraçarmos Maria e consola-la como o discípulo amado o fez.. Um dia de chorar abraçado com Maria.
Ataíde Lemos
Escritor & Poeta