Muitas passagens evangélicas são extremamente reflectivas nos levando há questionamentos internos sobre nossa atitude diante de Deus, diante a humanidade e a nós mesmos. De como vemos a atuação de Deus na humanidade, como que vivemos este Deus em nós e refletimos este Deus para o próximo.
Um destes momentos ricos de reflexão é a multiplicação dos pães. Nesta passagem escrita pelos evangelistas podemos tirar vários pontos importantes tanto aqueles de profundidade espiritual (dimensão Mistério), a prefiguração do aconteceria na ceia derradeira como a de dimensão social, a atitude do homem em relação ao compromisso com o irmão.
Podemos ver um Deus que se preocupa com o homem em toda sua dimensão. Se em determinado evangelho Jesus vê aquela multidão que não quer se afastar sentindo por ela compaixão devido serem ovelhas sem pastor, na multiplicação dos pães Jesus sente compaixão pela necessidade do material que dá vida biológica ao homem, o alimento.
Segundo o evangelho, Marcos não deixa duvida que ali ocorrera um grande milagre que foi a transformação de poucos pães e alguns peixes em alimentos para aquela multidão. Este é um ponto que por mais que se possa tirar varias reflexões não pode negar o milagre ocorrido.
Em 2º reis cap. 4,42-44 Elizeu também através de uma oração a Deus faz com que vinte pães pudesse saciar mais de cem homens. Um gesto de amor pelos outros reproduz no coração de Deus o amor do irmão pelo irmão. Quando somos capazes de dividir aquilo que temos certamente, todos são beneficiados pelos nossos gestos e atitudes. Esta passagem ocorrida no antigo testamento também vem prefigurar o acontecimento da multiplicação dos pães feito por Jesus.
Um fato importante neste episódio é que Jesus sacia o povo a partir do povo, isto é, do alimento que alguém carregava e que foi apresentado se tornou alimento para todos.
Quando não omitimos; quando apresentamos nossos dons à Deus, Ele pode transformar algo pequeno em grande e assim, muitos serem saciados a partir de partilhas de pequenas coisas.
Deus ama e se preocupa com o homem no seu todo. Deseja alimentar o Espírito, como também está consciente da realidade e necessidades humanas, e sabe que um dos fundamentos também para segui-lo é estar saudável biológica e psicologicamente.
Mas, também não podemos deixar aqui de refletir este acontecimento numa dimensão profundamente espiritual, onde Jesus prefigura a sua morte e a sua ressurreição nos deixando a Si próprio como alimento espiritual. Deixando-nos Seu corpo, Seu sangue que alimentados nos santifica o corpo e o Espírito até o dia em que todos nos encontraremos na gloria eterna.
Somente sente fome de Deus aquele que deseja ou que é impedido de se alimentar pelo egoísmo dos irmãos. Um egoísmo que acontece pela falta da multiplicação da palavra, dos gestos concretos de amor.
Ataíde Lemos
Escritor e poeta